Vamos falar de Osteoporose

Vamos falar de Osteoporose

A Osteoporose é uma doença assintomática que faz com que os ossos percam gradualmente a sua densidade e se tornem frágeis e quebradiços, o que pode levar a fracturas.

Ao longo da vida o nosso corpo está em constante renovação. Umas células morrem, outras nascem, num ciclo contínuo de evolução e crescimento. O mesmo se passa com os ossos. Acompanhando as novas exigências que o nosso crescimento nos apresenta, os nossos ossos são continuamente renovados, através de um processo de deterioração e criação dos seus tecidos. Esta remodelação afeta a forma e a densidade dos ossos. A osteoporose ocorre quando o processo de criação de tecido novo nos ossos é mais lento que o processo de deterioração e de perda de tecido de osso velho, resultando na diminuição da massa óssea e na deterioração da arquitetura do osso.

A osteoporose desenvolve-se, geralmente, de forma lenta e gradual ao longo de muitos anos, sendo por esse motivo uma condição normalmente associada a pessoas de idade avançada (tendo maior incidência em mulheres na pós-menopausa). Por não apresentar sintomas, o seu diagnóstico é geralmente tardio e apenas é efetuado após o paciente ter sofrido uma fractura.

Em todo o mundo, cerca de 200 milhões de mulheres sofrem de osteoporose. E, de acordo com a Direção-Geral de Saúde (DGS), os dados compilados nos últimos anos revelam que, em Portugal, uma em cada três mulheres com mais de 50 anos padece desta doença. Segundo dados apurados, cerca de 12.2% da população portuguesa sofre de osteoporose, sendo que na população feminina são cerca de 17% e na masculina 2.6%. Em Portugal apenas, contabilizam-se cerca de 40.000 fracturas osteoporóticas por ano, o que tem um impacto enorme na qualidade de vida de milhares de portugueses.

As fracturas osteoporóticas devem ser encaradas como um problema de saúde pública, por diversos factores:

  • o grau de incidência na população, tanto em Portugal como no resto do mundo;
  • o impacto significativo na saúde do paciente, com consequências médicas que afetam diretamente a sua autonomia e qualidade de vida;
  • o impacto económico e social significativo na vida do paciente, o que representa um enorme custo para este e para a sociedade.

Ainda que os dados revelem uma muito superior incidência em mulheres de idade mais avançada, esta é uma doença transversal, que afeta homens, mulheres, adultos e crianças.

Até ao momento, não foi encontrada cura para a osteoporose. Podemos, através da prevenção (dieta e exercício físico), no entanto, auxiliar o nosso corpo na diminuição da velocidade de deterioração dos ossos e na diminuição dos ditos sintomas da osteoporose, as fracturas osteoporóticas. O seu médico pode também receitar certos medicamentos ou recomendar determinados suplementos que promovem a formação de massa óssea, atrasam a perda de massa óssea ou auxiliam no processo de reabsorção de minerais.

Sintomas Principais

A osteoporose é considerada uma doença silenciosa, uma vez que não apresenta sintomas diretamente associados. Pode mesmo haver quem, apesar de dela padecer, nunca revele quaisquer sintomas da doença ao longo da vida.

De modo geral, o paciente apenas descobre que sofre de osteoporose de forma tardia e de uma de duas formas: após a ocorrência de uma fractura “estranha” ou através de um exame médico especifico que mede a densidade óssea, a densitometria óssea.

As fracturas osteoporóticas são assim consideradas o principal sintoma desta doença. Consideramos estas fracturas como “estranhas” pois são maioritariamente causadas por situações de baixo impacto, como, por exemplo, uma pessoa fracturar uma costela após espirrar ou tossir.

É a dor provocada pela fractura que alerta o paciente e o médico para a possibilidade de um diagnóstico de osteoporose, isto porque a perda de densidade óssea não provoca dor. Acontece, no entanto, que algumas fracturas são muito pequenas e passam despercebidas ao próprio paciente (como por exemplo as fracturas das vertebras da coluna), que apenas sente uma dor constante e sem aparente motivo.

Estas pequenas fracturas osteoporóticas  podem ser acumuladas ao longo do tempo, em parte devido à própria condição da osteoporose, que atrasa o processo de cura do osso fracturado e resulta em deformidades, sendo a mais conhecida a da coluna encurvada (cifose). Esta é uma característica geralmente associada a pacientes com idade mais avançada, que revelam uma postura alterada e inclinada para a frente, causada pelo enfraquecimento dos ossos e de pequenas fracturas acumuladas.

Devemos então, estar vigilantes e procurar reconhecer dores súbitas e inexplicáveis, que acontecem na maioria das vezes na zona das costas.

Principais Causas

O nosso esqueleto, desde o momento em que nascemos até ao momento que morremos, sofre um processo contínuo de destruição e criação do seu tecido, que está intimamente relacionado com as exigências que a nossa vida lhe impõe (a cada três meses cerca de 10% do nossos esqueleto é renovado).

As células dos ossos responsáveis por este ciclo de renovação são:

  • osteoclastos – são responsáveis pela absorção de materiais e eliminação de áreas de tecido ósseo obsoleto, resultando em cavidades;
  • osteoblastos – são responsáveis por criar nova massa óssea nas cavidades abertas pelos osteoclastos.

Os nossos ossos são duros e densos. Mas, para manter essas características, é necessário um fornecimento constante, e na medida certa, de minerais e o corpo deve produzir as quantidades corretas de várias hormonas, entre as quais a hormona do crescimento, a paratiroide, a calcitonina, o estrogénio e a testosterona. A vitamina D é também essencial para a absorção de cálcio dos alimentos que ingerimos e pela sua incorporação nos ossos.

Ainda que a osteoporose seja uma doença maioritariamente relacionada com o envelhecimento, com especial foco nas mulheres acima dos 45 anos após a menopausa, a realidade é que o desequilíbrio na renovação da matéria óssea, chamado osteopenia, pode surgir em qualquer idade e em pacientes de ambos os sexos.

A osteopenia está relacionada com este desequilíbrio entre as células de absorção (de matéria óssea) e de regeneração (de matéria óssea), ou seja, quando os osteoclastos se encontram a degradar o osso a uma maior velocidade à que os osteoblastos são capazes de o repor. Temos então um desequilíbrio que promove o enfraquecimento do osso.

Nas mulheres, o desequilíbrio tem geralmente inicio após os 35 anos, sendo mais afetado pelas mudanças hormonais associadas à menopausa. Na menopausa, as mulheres sofrem uma queda abrupta da hormona estrogénio, que é essencial na fixação do cálcio ao osso. Costuma-se classificar esta doença como Osteoporose Pós-Menopáusica.

Nos homens, por não passarem pela menopausa e não sofrerem uma queda abrupta da testosterona (que previne o desgaste ósseo), as fracturas osteoporóticas ocorrem por norma apenas a partir dos 70 anos, havendo um maior risco gradual após os 50 anos.

A osteoporose pode também ser desenvolvida por intermédio de outras doenças das quais o paciente possa padecer ou pela ingestão de determinados medicamentos e/ou substâncias que promovem o enfraquecimento dos ossos (ex: o tabaco destrói as células que formam o osso). Quando tal sucede, a sua classificação passa a ser de Osteoporose Secundária.

Os principais fatores de risco para o desenvolvimento de osteoporose são:

  • predisposição genética
  • envelhecimento
  • algumas doenças, tais como:
    • diabetes
    • doenças autoimunes
    • distúrbios hormonais (especialmente a Síndrome de Cushing, hiperparatireoidismo, hipertireoidismo, hipogonadismo, níveis elevados de prolactina e diabetes mellitus)
    • doença renal crónica
    • artrite reumatóide
    • certos tipos de cancro (tal como o miolema múltiplo)
  • dieta nutricionalmente pobre (nomeadamente em cálcio e vitamina D)
  • sedentarismo
  • tabagismo
  • alcoolismo
  • uso abusivo de medicamentos, tais como:
    • progesterona
    • corticosteroides
    • hormonas da tiroide
    • certos quimioterápicos
    • anticonvulsivantes.
  • menopausa
  • imobilização prolongada

O facto de determinadas doenças terem a capacidade de impulsionar o desenvolvimento da osteoporose, através do desequilíbrio da formação de osso, faz com que seja importante que após o diagnóstico de qualquer uma dessas doenças, o paciente seja devidamente acompanhado por um médico de forma a monitorar o seu desenvolvimento.

Existe ainda um tipo raro de osteoporose que não apresenta quaisquer causas conhecidas, que tem como classificação a de Osteoporose Idiopática. Este tipo de osteoporose pode surgir em qualquer pessoa, desde crianças com doses saudáveis de vitamina D até mulheres na pré-menopausa, passando por adolescentes com níveis hormonais considerados ideais, em que a única característica diferente é a que os seus ossos são fracos e se quebram com maior facilidade.

Diagnóstico

Sendo a osteoporose uma doença difícil de reconhecer (devido à quase total ausência de sintomas), o paciente deve ser examinado por um médico numa consulta de rotina na qual, através da análise de factores como a idade, peso e altura do paciente, dos seus hábitos de tabagismo e alcoolismo, do uso ou não de corticoides e, ainda, do histórico de fracturas osteoporóticas na família, se pode chegar a um diagnóstico inicial. Devem ser também efetuadas análises clínicas, de modo a compreender os níveis hormonais, de cálcio e vitamina D do paciente, bem como exames aos rins e ao fígado.

Para se obter um diagnóstico confirmado, deve ser efetuado uma densitometria óssea. Este exame indolor, rápido e muito fiável, que permite ver o osso por dentro e medir a sua densidade mineral, sendo até possivel prever o risco de futuras fracturas. Os valores obtidos são então comparados com os de uma pessoa saudável com o mesmo peso, sexo, altura e idade.

A densitometria óssea é um exame solicitado, de forma geral, a:

  • mulheres com mais de 60 anos e homens com mais de 70 anos – na ausência de factores de risco;
  • ambos os sexos a partir dos 45 anos – se existirem factores de risco.

Outro dado muito importante a ter em atenção, aquando da consulta médica, em conjunto com o a existência de fatores de risco, prende-se com a procura de sinais que levantem suspeitas para a existência de causas para a osteoporose secundária, ou fracturas vertebrais. Se for detetada alguma doença ou fator de risco para osteoporose secundária, deve ser efetuada uma radiografia das colunas dorsal e lombar, de modo a que se possa verificar a existência de uma deformação vertebral.

Tratamento

Após a confirmação do diagnóstico, todos os tratamentos para a osteoporose devem ser feitos seguindo as orientações de um médico de clínica geral e/ou um médico ortopedista.

Sabendo já que o melhor tratamento passa pela prevenção, devem ser tomadas medidas de alteração do estilo de vida do paciente que promovam a contenção de perda de massa óssea e o alívio dos sintomas da osteoporose, tais como:

  • ajustar a dieta – deve ser promovida a ingestão adequada de cálcio e vitamina D (ou uso de suplementação após a refeição)
  • prática de actividade física de forma regular – exercícios tais como caminhadas, dança ou hidroginástica

Estas medidas são, na maioria das vezes em que a doença já está instalada, insuficientes na medida em que a degeneração do osso é superior à sua reconstrução. Nestes casos, o médico deve receitar ao paciente medicação que estimule a produção de massa óssea e incentive a reconstrução do osso, tentando-se assim prevenir fracturas.

A medicação com maior impacto na osteoporose é a que promove o aumento de massa óssea, na qual se encontram os bifosfonatos, pois reduzem o risco de fracturas. São também utilizados fármacos que inibem a velocidade de degradação da massa óssea, tais como a calcitonina, permitindo ao esqueleto ter o tempo necessário para se regenerar.

Se o paciente tiver de tomar suplementação de cálcio e tiver cálculos renais, deve ter o cuidado de ingerir bastante água pois o excesso de cálcio na urina pode ser prejudicial e bastante doloroso.

Prevenção

Como já foi referido, o melhor tratamento é a prevenção. Isto porque, muitas das vezes, a prevenção chega mesmo a ter mais sucesso que o tratamento no caso da osteoporose.

É mais fácil prevenir a perda de densidade óssea do que restaurar a que já foi perdida.

Ainda que seja uma doença largamente associada a uma idade avançada, a adoção de hábitos alimentares e de vida saudável como método de prevenção da osteoporose deve ter inicio na infância:

  • adoção de bons hábitos alimentares – com uma alimentação rica em cálcio, que encontramos no leite e seus derivados, nos brócolos e outros vegetais e leguminosas de folhas verde-escuras, nos ovos e peixes ricos em gorduras, uma vez que o cálcio é um mineral fundamental para o processo de formação do esqueleto, garantindo a resistência óssea e participa nos processos de contração muscular, na libertação de hormonas e na coagulação sanguínea;
  • absorção de vitamina D – uma vez que o número de alimentos ricos em vitamina D é reduzido, e esta é um elemento essencial no processo de absorção do cálcio, são recomendados banhos de sol, com a duração de 15 minutos diários (sem protetor solar), nos horários de menor calor, de forma a que seja produzida vitamina D em quantidade suficiente e que esta possa chegar ao intestino e auxiliar na incorporação do cálcio;
  • prática de exercício físico – actividades físicas de alto impacto, tais como caminhar ou correr, pular, dançar e subir escadas, estimulam a formação de massa óssea e auxiliam o fortalecimento dos músculos, ligamentos e articulações, que são um fator importante na prevenção de quedas. Devem ser incluídos treinos de musculação, uma vez que, agarrados aos ossos se encontram os tendões e, ao fortalecer os tendões, fortalecemos também o próprio osso. No caso de pessoas com mais idade, devem ser concebidos programas de treino adaptados individualmente, que incluam marcha, fortalecimento muscular, de postura e equilíbrio;
  • evitar consumo excessivo de cafeína;
  • evitar tabagismo;
  • evitar ingestão de bebidas alcoólicas.

Viver com Osteoporose

Com a confirmação do diagnóstico e o inicio do tratamento, devem ser tomadas medidas para que se reduzam as probabilidades de futuras quedas e eventuais fracturas.

Entre estas medidas, deve preparar a sua habitação no sentido de diminuir os perigos, como por exemplo, retirar os tapetes e instalar um piso anti-derrapante na casa de banho e barras de proteção, se necessário.

Uma vez que esta é uma doença que aflige em larga medida a camada de população mais idosa, devem, ser efetuados testes de visão e audição regulares, bem como trabalhar diretamente com um fisioterapeuta, no sentido de desenvolver um programa de exercícios de fortalecimento do tronco, que melhoram o equilíbrio, entre outros. Devido à ingestão de determinados medicamentos, algumas pessoas sofrem de tonturas ou confusão, o que leva a quedas e possíveis fracturas.

No caso de sofrer uma fractura, e após consulta com o seu médico, pode tentar atenuar a dor e auxiliar a recuperação através de tratamentos quente e frio (tais como banhos quentes e bolsas de gelo), tratamentos de estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) ou técnicas de relaxamento.

Esta é uma doença que pode levar a um grande nível de perda de independência e mobilidade, pelo que é aconselhada a terapia psicológica.

É imperativo que converse com o seu médico, no sentido de compreender as implicações de viver com esta condição a longo termo e das possibilidades de atenuação e redução de sintomas.

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