Um Acidente Vascular Cerebral (AVC), por vezes também chamado de “trombose”, é uma doença neurológica que resultada da interrupção de fornecimento de sangue a uma parte específica do cérebro, o que altera o correcto funcionamento cerebral e que resulta em danos nas células cerebrais, levando em última instância à morte do próprio tecido cerebral. Esta interrupção pode ter origem em duas situações distintas, sendo por esse motivo distinguidos dois tipos de AVC:
Por vezes, podem ocorrer “mini acidentes vasculares cerebrais”, os chamados Ataques Isquémicos Transitórios, nos quais se dá uma pequena interrupção momentânea do fornecimento sanguíneo a uma determinada parte do cérebro, sendo o mesmo rapidamente restabelecido. Ainda que nestes episódios não ocorra morte de tecido cerebral por falta de suprimento sanguíneo e a função cerebral seja restabelecida de forma rápida, estes devem ser encarados como um sinal de alerta pois podem indicar que um AVC Isquémico pode estar iminente.
É entre a comunidade mais idosa que os AVC são mais comuns, afetando mais as mulheres do que os homens, sendo que quase 60% dos óbitos por AVC ocorre em mulheres.
Por ano, 15 milhões de pessoas sofrem um AVC, dos quais 6 milhões não sobrevivem ao episódio. Em Portugal, os AVC são a maior causa de morte, tendo o País a mais elevada taxa de mortalidade de toda a Europa Ocidental. A incidência da doença é de cerca 25.000 pessoas por ano, das quais cerca de 10% resultam em óbito e cerca de 35% resultam em incapacidade elevada. Uma vez que o fornecimento de sangue é vedado a determinada parte do cérebro, as células cerebrais responsáveis por funções específicas podem ficar danificadas e impossibilitadas de cumprir a sua função, provocando incapacidade a longo prazo.
Ainda que a incidência de AVC esteja a diminuir, possivelmente reflexo do aumento de consciência da população de controlo de hipertensão arterial e dos valores elevados de colesterol, podemos reduzir ainda mais os números de incidências e fatalidades, com a aposta na prevenção e no diagnóstico e tratamento céleres, que resultam numa recuperação eficaz do AVC e na retoma das funções cognitivas e motoras.
Os sintomas de um AVC podem variar bastante consoante o tipo de AVC sofrido (isquémico ou hemorrágico) e da parte do cérebro afetada, no entanto, sendo episódios geralmente súbitos, os seus efeitos geralmente também são imediatos. Uma vez que a extensão do dano causado pelo AVC está intimamente ligado ao tempo de atuação médica, é fundamental que a população conheça os seus sintomas mais típicos:
Estes são geralmente os sintomas mais associados aos AVC e muitas vezes referidos como os 3 F’s aos quais temos de estar atentos — Face, Fala e Força.
Em caso de apresentação de algum destes sintomas, a pessoa deve ser imediatamente encaminhada para o hospital ou centro médico mais próximo. Não fique à espera que o sintoma desapareça.
Os AVC podem ser ainda acompanhados de outros sintomas, que também merecem o mesmo grau de urgência na sua observação:
Os AVC podem no entanto acontecer sem relevar qualquer sintoma visível. Apenas após a realização de exames de rotina ou por outro motivo, se percebe que a pessoa sofreu um AVC. Por este motivo, pessoas que padecem dos fatores de risco devem efetuar consultas regulares com o seu médico.
As principais causas para um AVC são em grande medida os fatores de risco que podem ser corrigidos, através de mudanças de hábitos de vida ou pela toma de medicação. Os fatores de risco mais prevalecentes são:
Existem ainda outros fatores de risco aos quais não somos capazes de dar resposta, tais como a idade, o sexo e a herança genética (esta última não apenas pela influência do histórico de saúde familiar mas também das características genéticas próprias de cada grupo étnico).
O diagnóstico para um AVC é sugerido pela combinação dos sintomas observados e dos resultados do exame físico efectuado por um médico. No entanto, de modo a que se consiga perceber com exactidão se de facto ocorreu um AVC e se o mesmo foi isquémico ou hemorrágico, devem ser efetuados diversos exames:
Existem outros exames de imagem, tais como as angiografias por TC ou a RM ponderada em difusão que também permitem avaliar a extensão dos danos causados pelo AVC.
O médico deve sempre procurar a causa do AVC, devendo assim pedir diversos exames adicionais, tais como:
Com base nestes exames, o médico é capaz de avaliar o grau de urgência de intervenção e que tipo de intervenção deve ser feita, qual a necessidade e grau de reabilitação a efetuar, bem como instruir o paciente sobre as formas de este reduzir as hipóteses de novo AVC.
Após o diagnóstico, os médicos são capazes de determinar a gravidade e tipo de AVC e de que forma este deve ser respondido. Todo o processo deve ser o mais célere possivel, uma vez que por cada 15 minutos de atraso no tratamento o risco de fatalidade aumenta em 4%. Por este motivo, o internamento precoce é fundamental. Assim que o paciente é internado, existe uma janela temporal crítica de ação que irá permitir um tratamento eficaz e diminuir o risco de complicações e recorrência.
Se o paciente for diagnosticado com um AVC Isquémico, o mais comum, o tratamento pode passar por:
Se o paciente for diagnosticado com AVC Hemorrágico, o tratamento será diferente do anterior e pode passar por:
O programa de reabilitação do paciente deve ter início logo após o internamento, podendo-se assim reduzir as sequelas do AVC.
Tal como com qualquer outra doença, a prevenção é sempre preferível ao tratamento. No caso dos AVC, esta máxima não foge à regra, pelo que devemos estar atentos e vigilantes aos fatores de risco modificáveis que aumentam a probabilidade de ocorrência de AVC.
Assim, devemos todos procurar implementar melhorias no nosso estilo de vida e controlar doenças e problemas de saúde que possam agravar os riscos de AVC:
Pessoas que sofram de doenças como diabetes, hipertensão arterial e doenças cardíacas, devem ter um cuidado redobrado na monitorização da sua condição de saúde, efetuando exames médicos regulares, idealmente todos os anos.
Após a ocorrência de um AVC, é de extrema importância tomar medidas que redução as chances de um novo episódio. Devem ser efetuados exames cardíacos e exames de imagem cerebral, bem como análises clínicas com periodicidade variável. O paciente deve ainda ser monitorizado em ambiente clínico de forma a vigiar os fatores de risco associados.
Um grande número de doentes, após um AVC, necessita de tomar medicação preventiva, geralmente para o resto da vida. Devem ser também adoptadas as mudanças de estilo de vida já mencionadas para a prevenção.
Como já foi mencionado, o grau de gravidade e duração das sequelas derivadas de um episódio de AVC estão intimamente ligadas ao tempo que decorre até ao tratamento do mesmo. Quanto mais rapidamente o paciente for tratado, menos graves serão as sequelas e melhores serão as chances de recuperação.
A gravidade e duração das sequelas estão também, de certo modo, dependentes do tipo de AVC sofrido (isquémico ou hemorrágico), bem como da zona do cérebro que foi afetada.
De forma generalizada, um episódio de AVC Hemorrágico pequeno e sem grande pressão intracraniana pode ser menos agressivo do que um episódio semelhante mas com AVC Isquémico, isto porque a afluência de sangue numa zona do cérebro provoca menos danos no tecido cerebral quando comparado à inibição de oxigénio para essa zona.
Se o AVC afetar uma área de elevada importância do cérebro, como é o caso das zonas que afetam o discurso ou as funções motoras, a recuperação pode ser particularmente difícil e morosa. Em situações em que o cérebro é afetado nas zonas responsáveis pelas suas funções motoras, pode ser desenvolvido um elevado grau de dependência de terceiros para a execução de tarefas simples, como comer, vestir ou andar. Estas situações podem ser responsáveis pelo desenvolvimento de depressão. A depressão pode e deve ser tratada.
O tempo de recuperação varia de paciente para paciente e também pelas características específicas de cada episódio.
Como forma de reduzir o impacto das sequelas do AVC, deve ser iniciado o processo de reabilitação logo no internamento, geralmente um ou dois dias após a chegada. Devem ser iniciados exercícios de fisioterapia para melhorar os movimentos, sessões de fonoaudiologia para melhorar a comunicação e sessões de terapia ocupacional. Com estas práticas pretende-se que o paciente recupere ao máximo as suas capacidades para a realização de tarefas e actividades diárias, que mantenha a sua forma física e que a sua qualidade de vida melhore, pretendendo-se ainda que o corpo e cérebro sejam reeducados, reaprendendo antigas habilidades e possivelmente aprender algumas novas.
A eficácia destes processos e sessões depende bastante da força de vontade e perseverança do paciente, pois os mesmos não terminam com a saída do hospital. Este deve ser um processo contínuo e que passa por sessões num centro de reabilitação, fisioterapia e terapia ocupacional, bem como pela prática de exercícios em casa e no dia a dia.
É importante reconhecer que atualmente as pessoas que sofrem de um AVC têm uma maior chance de recuperação e diminuição de gravidade e duração das sequelas devido à maior facilidade e rapidez de resposta, tratamento e acompanhamento em situação de urgência nas chamadas unidades de AVC dos hospitais.
http://www.brasil.gov.br/saude/2012/04/acidente-vascular-cerebral-avc
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Viver após um Acidente Vascular Cerebral – Recomendado aos Prestadores de Cuidados Informais, Direcção-Geral da Saúde, Lisboa, 2000
Sociedade Portuguesa de Cardiologia
Sociedade Portuguesa do Acidente Vascular Cerebral
https://www.msdmanuals.com/pt-pt/casa/dist%C3%BArbios-cerebrais,-da-medula-espinal-e-dos-nervos/acidente-vascular-cerebral-avc/considera%C3%A7%C3%B5es-gerais-sobre-o-acidente-vascular-cerebral