Vamos falar de Artrite Reumatoide

Vamos falar de Artrite Reumatoide

A Artrite Reumatoide (AR), segundo a Sociedade Portuguesa de Reumatologia (SPR), é uma doença inflamatória, crónica e autoimune que se caracteriza pela “inflamação das articulações e pode conduzir à destruição do tecido articular e periarticular.”

É frequente os pacientes observarem um inchaço, rigidez e dores nas articulações de ambos os lados do corpo, com maior incidência nos dedos das mãos, joelhos e tornozelos, que geralmente têm um impacto na sua mobilidade e na liberdade de movimentos para realizar as suas tarefas diárias. É, aliás, esta simetria de sintomas (ao afetar ambos os lados do corpo) que permite diferenciar esta doença de outros tipos de artrites.

A inflamação das articulações, se não for atempadamente contida, pode levar a deformações ósseas e a outros problemas sérios de saúde. Podem ser afetados os olhos, os nervos e o pulmões, podendo-se mesmo assistir ao entupimento das artérias, o que pode desencadear enfartes e AVCs.

Ainda que seja uma doença crónica, ou seja, sem cura, tal não significa que não possa ser eficazmente tratada. Se identificada num estágio precoce, a inflamação pode ser suprimida com recurso a terapias medicamentosas, que estão em constante evolução e melhoramento, podendo resultar numa melhoria substancial do prognóstico vital e funcional a longo prazo.

Esta doença autoimune tem uma prevalência considerável na população mundial. Em Portugal, segundo o Instituto Português de Reumatologia (IPR), estima-se que a AR afete cerca de 50 a 60 mil portugueses (0,8 a 1,5% da população). No Reino Unido, é estimada uma incidência de cerca de 1% da população, sendo afetados cerca de 400.000 adultos acima dos 16 anos de idade. Em França, cerca de 250.000 adultos sofrem da doença. Nos EUA, aproximadamente 1.3 milhões de adultos sofrem de AR, cerca de 0,6 a 1% da população. Podemos assim afirmar que a prevalência em países industrializados varia entre os 0,5 a 1,5% da população, o que significa que esta não é uma doença rara.

De todos os afetados, são as mulheres na faixa dos 30 aos 60 anos as mais atingidas. Globalmente, a ocorrência de AR é duas a quatro vezes maior em mulheres que em homens. Ainda que o pico de incidência nas mulheres seja após a menopausa, esta é uma doença que pode afetar pessoas de todas as idades e géneros, incluindo crianças e adolescentes.

Sintomas Principais

Os sintomas de Artrite Reumatoide (AR) variam de pessoa para pessoa. Geralmente, a doença inicia-se com a presença de uma poliartrite simétrica, ou seja, são afetadas mais de 4 articulações nos dois lados do corpo. As articulações mais afetadas tendem a ser as mais pequenas das mãos e dos pés.

Esta a inflamação das articulações (artrite), uma característica típica da doença, é geralmente responsável pelo inchaço (edema) das mesmas, por provocar dor, vermelhidão e sensação de calor nas articulações. Os pacientes tendem a sentir uma rigidez de movimentos das articulações nos períodos da manhã ou após períodos de inatividade prolongada.

Segundo a SPR, “à medida que a doença progride, mais articulações podem inflamar, incluindo ombros, cotovelos, ancas e joelhos”, uma vez que qualquer articulação com membrana sinovial (que é a membrana que reveste algumas articulações e tendões e que produz um líquido lubrificante que nutre e facilita os movimentos articulares) pode ser afetada, tal como a primeira articulação cervical.

Se não tratada, esta doença inflamatória pode resultar na destruição progressiva das articulações, levando à perda da sua função. Ao serem destruídas as articulações, assistimos a progressivas deformidades ósseas e articulares, sendo as mais características as deformidades nas mãos.

Os sintomas de AR não se limitam, no entanto, às articulações. A dificuldade de movimentos pode levar a uma perda de massa muscular por atrofia, a perda de peso, fadiga, febre e perda de apetite.

Vários órgãos podem ser afetados pela doença, bem como esta se pode manifestar de outras formas:

  • Olhos secos ou inflamação ocular
  • Lesões cutâneas ou úlceras nas pernas
  • Surgimento de nódulos reumatoides
  • Compressão de nervos periféricos
  • Inflamação pleural (membrana que reveste os pulmões)
  • Inflamação do pericárdio (membrana que reveste o coração)
  • Aumento da dimensão do fígado e da produção de enzimas hepáticas
  • Outros distúrbios como os da tiroide, osteoporose e depressão
  • Pode ainda ser aumentado o risco de desenvolver diabetes

Segundo o IPR, ainda que os sintomas possam ser ligeiros em algumas pessoas, com curta duração e possibilidade de reminiscência (estado adormecido), em certas pessoas os sintomas podem ser moderados com crises ocasionais, podendo mesmo haver pacientes que sofrem com doença grave e crises frequentes.

Principais Causas

Não se conhece ainda a causa exata da Artrite Reumatoide (AR). Sabemos que, sendo uma doença autoimune, o sistema imunitário não funciona devidamente e reage contra os tecidos do próprio doente. Mas, segundo a SPR, a “causa dessa desregulação do sistema imunitário que acontece na AR é desconhecida”.

Cada vez mais, assistimos a um aumento de investigações nesta área que nos permitem identificar determinados fatores de risco e que é a associação destes fatores de risco com uma predisposição genética possivelmente a causadora da doença.

Os fatores de risco conhecidos hoje são:

  • predisposição genética
  • sexo feminino
  • tabagismo
  • excesso de peso
  • desequilíbrios hormonais
  • possivelmente a depressão (ainda sob debate)

Diagnóstico

Sendo a Artrite Reumatoide (AR) uma doença para a qual de momento não se conhece uma cura, é imprescindível que seja feito um diagnóstico precoce (idealmente nos primeiros 3 meses desde o surgimento dos primeiros sintomas) e que se inicie o tratamento assim que possível. Dessa forma, podemos influenciar significativamente o progresso da doença.

A especialidade médica dedicada a esta doença é a Reumatologia, sendo o médico especialista o chamado Reumatologista. O diagnóstico inicial não necessita, no entanto, de ser efetuado por um médico especialista. Este tem apenas que responder ao desafio de reconhecer atempadamente os sintomas.

Após serem reconhecidos os sintomas por um médico, este efetua um exame físico ao doente que é complementado pela avaliação do seu histórico clínico e pela realização de radiografias de mãos e pés. Com estes dados, o médico geralmente consegue diagnosticar se os sintomas nas articulações do paciente se devem a AR.

Como forma de despistar outras possíveis doenças e confirmar o diagnóstico, o médico pode solicitar outros exames laboratoriais de sangue:

  • Velocidade de sedimentação e Proteína C
  • Hemograma
  • Presença de anticorpo conhecido como Fator Reumatoide
  • Presença de anticorpo contra péptidos citrulianos (anti-CCP)
  • Presença de anticorpo antinuclear (ANA)

Devem ser ainda solicitados testes que descartem outras condições autoimunes, tais como lúpus ou artrite psoriática.

Tratamento

Assistimos nos últimos anos a uma melhoria substancial nas estratégias de tratamento da Artrite Reumatoide (AR), sendo possível conviver de forma funcional com a doença.

Segundo a SPR, “por um lado, verificou-se uma melhoria nas estratégias de tratamento com uso eficaz dos medicamentos modificadores de doença já existentes; por outro, surgiram novos medicamentos”.

O tratamento da AR não se baseia, no entanto, a tratamentos à base de medicamentos, mas sim a uma combinação de medidas de melhoramento de estilo de vida, tratamento específico para a doença e terapias de melhoramento de força e mobilidade:

Melhorar o estilo de vida

  • dieta saudável e regrada, com menor ingestão de alimentos inflamatórios (açúcar, álcool, frituras, etc.), idealmente com acompanhamento de nutricionista.
  • prática de exercício físico regular, de modo a reduzir ou prevenir o excesso de peso, uma vez que este desgasta as articulações e promove outras doenças como a hipertensão e a diabetes. Com imprescindível acompanhamento e orientação médica.
  • deixar de fumar, uma vez que é reconhecido que o fumo de tabaco está associado à degeneração óssea.

Tratamento específico

  • DMARDs clássicos (medicamentos modificadores de artrite reumatoide) — devem ser usados isoladamente ou em combinação, assim que for confirmado o diagnóstico. Estes controlam os sintomas e sinais de AR, bem como diminuem o risco de deformidades. O Metotrexato é o medicamento mais amplamente utilizado devido ao seu bom perfilhe eficácia e toxicidade.
  • DMARDs biológicos — são moléculas que modulam as citocinas (proteínas da inflamação) e demonstraram que são eficazes no tratamento da AR, incluindo pacientes resistentes ao Metotrexato. A introdução destes medicamentos é feita em situações muito específicas e de acordo com as linhas orientadoras da SPR.
  • Anti-inflamatórios (AINEs) — aliviam os sintomas da doença (inflamação das articulações), mas não impedem a progressão da mesma. Os AINEs podem interagir com outros medicamentos ou estarem contra-indicados no seu caso. Pelo que não se aconselha a toma sem prescrição médica.
  • Analgésicos — devem ser considerados como auxílio do doente que não consiga suportar a dor nas articulações.
  • Corticosteroides — em doses baixas podem ser usados em combinação com os DMARDs, ajudando a controlar os sintomas a curto prazo e para minimizar a médio e curto prazo o dano articular. Estes podem ser prescritos em doses mais elevadas e com curta duração para redução rápida de sintomas em doentes recentes de AR ou num surto da doença. Existe um risco agravado de efeitos potencialmente gravosos (diabetes, osteoporose, cataratas), pelo que as doses recomendadas pelo seu médico devem ser respeitadas. Podem ser ainda administrados de forma intravenosa quando uma articulação especifica provoca uma maior dor ou aliviar sintomas de articulações mais problemáticas.
  • Cirurgia — pode ser equacionado uma intervenção cirúrgica em casos muito específicos.

Tratamentos complementares

  • Fisioterapia — deve ser elaborado um plano de recuperação das articulações e membros afetados por um especialista, para fortalecimento muscular e treino de atividades de vida diária.
  • Terapias complementares — terapias como a acupuntura, podem ser consideradas no auxílio da dor e mobilidade.

Vigilância

Sendo a Artrite Reumatoide (AR) uma doença crónica, esta irá acompanhar o doente ao longo da vida, de uma forma mais ou menos gravosa. Deste modo, deve ser efetuada uma vigilância regular da doença, com visitas regulares ao médico e a realização frequente de análises de sangue, de modo a que seja avaliada a terapêutica prescrita e os possíveis efeitos adversos da mesma.

Uma vez que esta doença pode desencadear o desenvolvimento de outras doenças, deve ser feito o seu rastreio de forma regular.

Prevenção

Não se conhece ainda a causa específica da Artrite Reumatoide (AR), apenas se sabe que esta surge através da combinação dos fatores de risco e de múltiplos fatores genéticos, imunológicos e ambientais, pelo que a prevenção da AR passa por reduzir os fatores de risco.

Podemos, sim, reduzir as possíveis complicações e limitações que os estados não controlados e avançados da doença provocam na mobilidade das pessoas, através do diagnóstico e tratamento precoces.

Viver com Artrite Reumatoide

Nos dias que correm a Artrite Reumatoide (AR) não pode ser considerada uma doença severamente debilitante, especialmente se for diagnosticada atempadamente e o tratamento for iniciado de forma célere e eficaz.

Geralmente os doentes passam por diversos períodos de agravamento e remissões, pelo que a adesão do doente à terapêutica prescrita é essencial para que as remissões se sobreponham aos períodos de agravamento.

Como forma de reduzir os impactos na mobilidade e a dificuldade de efetuar atividades diárias, os doentes devem manter um plano de exercício físico regular. Deste modo irão fortalecer os músculos em torno das articulações e combater a fadiga. Os exercícios mais aconselhados para doentes com AR são a hidroginástica e a natação.

Nos momentos em que o doente sentir dor nas articulações, este deve aplicar calor ou frio nas mesmas, uma vez que o calor alivia a dor e promove o relaxamento, e o frio também alivia a dor e reduz os espasmos musculares.

É essencial, também, que o doente consiga relaxar, aprendendo e aplicando técnicas de relaxamento como meditação ou ioga, de modo a aprender a controlar a dor.

Nos casos em que a doença já está avançada e/ou o tratamento foi tardio, podem ocorrer complicações ortopédicas mais severas, que têm por vezes um forte impacto na vida dos doentes com AR. Nestes casos, a adaptação à doença pode ser mais complicada e casos de depressão clínica não são raros e devem ser acompanhados por especialistas.

O doente deve ainda ter em consideração o potencial de ocorrência de complicações infecciosas provocadas quer pela doença, quer pelos tratamentos.

Em todos os casos, os doentes não devem recorrer à automedicação e devem ser sempre acompanhados por um médico no seu tratamento.

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